(Foto
da entrevistada - Acervo pessoal)
A entrevista a seguir foi realizada com
a professora Verônica Rebouças, professora querida, dedicada e respeitada de Geografia do Colégio
Estadual Antonio Houaiss, que conheceu e trabalhou na escola antes mesmo de
ter virado Escola Estadual, quando ainda funcionava como
escola particular. A Entrevista foi realizada pelas alunas Eduarda Sales e Stephanie
Silva (ambas da turma 1024) na sala dos professores da própria escola, fazendo
parte da pesquisa que elas realizaram sobre a História do Colégio Estadual
Antonio Houaiss.
1.
Seu
nome, por favor, professora.
Meu nome é Verônica Rebouças,
professora de Geografia desde 2002 anos na escola estadual e na escola
particular, desde 1997, quando meu filho veio pra cá no maternal. Sou
"história-viva" dessa escola.
2.
Como
era a escola no passado?
Aqui era uma escola que tinha desde a
creche até o pré-vestibular.
3.
Pois
é, professora. Quando nós fomos lá em cima ver a escola, chegamos ver os
brinquedos e o parquinho.
Sim, mas lá pra cima, além dos
brinquedos, tem o teatro, um teatro mesmo, com palco...super legal. O espaço
físico era muito diferente, porque era uma escola que era particular e tinha
turmas desde a creche até o pré-vestibular. Então tinha um espaço muito
diferenciado de hoje, tinha parquinho,
tinha piscina, teatro, até academia tinha!
4.
Tinha
até academia?
Tinha ! Era totalmente diferente. Aí
começou o Estado, e aí, assim, os primeiros diretores aqui fizeram um trabalho
muito bacana. Nesse período, quando a escola particular fechou, em 2001, ela
permaneceu um bom tempo fechada, até virar Estadual, em 2002. Aí, quando eu
voltei, a escola já estava mais caída, porque um espaço desses precisa de
manutenção. E aí a direção tentou... eles eram assim, agitavam muito.
5.
Verdade?
O que eles faziam?
Faziam mutirão de limpeza com os
alunos, compravam lâmpadas, faziam tudo. Aí a gente conseguiu deixar a escola
"show de bola".
6.
Então
quer dizer que a escola ficou abandonada por um tempo?
Sim, entre o período que ela era
particular e foi fechada até o Estado
alugar o prédio, ela ficou abandonada. Aí, assumiu essa direção, que foi a
primeira. Isso foi em 2002. E aí, mesmo com todos os problemas dessa direção a
gente começou as aulas aqui do jeito em que estava. Não tinha nem papel
higiênico. O Estado não mandou nada.
7.
Nossa!
O que vocês fizeram?
Pois é, o Estado não mandou nada! A
gente que teve que fazer mutirão pra limpar. Nós chamamos os alunos no sábado
para vir na escola fazer um mutirão de limpeza, não tinha agente de limpeza,
foi assim.
8.
Eu
acho que nós podíamos fazer isso de novo, porque vimos o estado da escola lá
atrás e está terrível.
É porque tem uma parte dessa escola
que, para o Estado, é como se não fosse dele.
Então fica abandonado. Eu não sei qual é o limite para o espaço alugado
pelo Estado. Mas acho que não é o espaço
inteiro.
9.
Nós
também achamos isso, porque lá atrás tem um espaço muito grande, e totalmente
abandonado.
Sim, acho que eles não alugaram tudo
não.
10. Então, se eles não alugaram o espaço
inteiro, a qualquer hora que o proprietário quiser fazer qualquer coisa, ele
pode fazer?
Pois é, vários diretores tentaram
pedir para que o Estado comprasse o prédio, em definitivo. Mas parece que um
dos problemas é que o prédio não está no nome de um proprietário só. Então tem
inventário, uma coisa meio enrolada. Mas já houve uma tentativa de compra desse
prédio pelo Estado. Mas aí o que acontece, teve essa direção que deixou a
escola "top", legal mesmo, mas aí começou o problema. Começou a não
ter mais eleição direta para diretor. E
aí começou a vir um monte de diretores de fora, impostos pela Secretaria
Estadual de Educação, pessoas que não tinham nada a ver com a escola, que não
tinham vínculo com a Escola, pessoas que eram de fora, que não eram daqui. E aí
a escola começou a ficar meio... provavelmente acredito que não foi negligência
dos diretores, também acho que foi falta
de verba e tudo.
11. A coisa ficou meio embolada, então?
Bom, eu sei que a escola, depois da
primeira gestão, foi decaindo demais. A infraestrutura, ficou muito muito ruim.
E aí, o que eu percebo...como eu sou uma das mais antigas professoras daqui,
quando a atual gestão entrou, ela chegou com vontade de recuperar o espaço
físico da escola, melhorar o aspecto. As salas, antes eram todas pichadas, não
tinha luz, não tinha ventilador, nada. Vocês são do terceiro ano, né? Vocês
parecem alunas do terceiro ano.
12. Não, somos do primeiro ano. Por que?
Ah, pensei que eram do terceiro. Então
vocês não viram a escola antes. Então, essa direção está aí desde o ano
passado, e o que tenho percebido é que assim, não sei se o Estado passou a
mandar mais verbas, não sei o que de fato está acontecendo. Mas a escola está
voltando a ficar como era antes, como eu peguei lá no início. Ainda tem pontos
negativos, mas por exemplo, hoje você vê as escolas começando a ser pintadas,
já não vê salas escuras, sem luz. Além disso, está tendo reforma na Biblioteca.
Então, como professora daqui, eu estou mais animada.
13. Finalmente acharam a gente aqui, nos
encontraram aqui dentro!
Exatamente! Então vocês que são do
primeiro ano, tem um fator que é muito importante também: que é o papel do aluno. Não adianta nada: a escola fazer uma coisa
linda, e tentar melhorar tudo, se os alunos, que são os usuários principais,
depredam, não limpam... não contribuem... por exemplo, no passado, os
corredores possuíam murais cheios de trabalhos.
Os professores todos usavam os murais da escola, das salas.Você não via
um mural vazio. Aí, essa mudança, acho que foram por dois fatores: as mudanças
sucessivas na direção, com pessoas de fora que não tinham nada a ver com a
escola, iam vindo e ficando, e também, de repente, a falta de verbas, do
próprio estado, pois manter uma escola dessas, com esse porte, não é nada
barato.
14. É verdade. A escola é realmente muito
grande.
Sim, aliado à isso também sofremos com
a falta de funcionários, porque se você não quer que as coisas sejam quebradas,
você precisa de um funcionário para fiscalizar. Por exemplo, chegou um momento
em que mandaram um computador para cada sala de aula, para cada professor. Aí eles colocaram os computadores.
15. Sim, os computadores estão lá atrás,
nós vimos. O que aconteceu?
Pois é, colocaram os computadores mas
a sala não tinha nem portas para fechar a sala. Como você vai deixar um
computador assim, largado?
16. Eu e Eduarda fomos lá atrás tirar as
fotos. Quando chegamos lá, vimos tanto desperdício...computadores quebrados e
largados... tinham máquinas largadas, antigas. Lá atrás nos falaram que,
antigamente, tinham janelas. A gente não sabe exatamente o que era ali, mas nos
informaram que os moradores da comunidade da boca do mato pegaram as janelas.
Nisso você chegou a um ponto que é
extremamente importante falar: Na época em que a escola era particular, e eu
trabalhei nessa época, por 5 anos, os
donos da escola tinham uma relação muito boa com a comunidade, e faziam questão
disso. Sempre faziam doação de alimentos, e no dia de São Cosme e Damião, que
era o dia do aniversário da escola, eles abriam e faziam festa, e vinha o
pessoal todo da comunidade para dentro da escola. Ela fazia questão de ter um
bom relacionamento porque ela sabia que, senão...tanto que nessa época em que a
escola era particular, não havia essa questão de roubo e nada disso porque eles
respeitavam a escola. Eles sabiam que
aqui era um lugar que dava um benefício para eles. Ele tinham uma relação muito
boa. Depois não, depois o pessoal da própria comunidade passou a entrar aqui nos
finais de semana para roubar e ocupar o espaço...isso os bandidos porque o
pessoal do bem nunca ia fazer isso... então com o tempo foi tendo essa queda,
mas sinto que as coisas vão melhorar muito. É uma direção que tem disposição
para melhorar, e está tentando muito, na medida do possível. Claro que ninguém
aqui de um dia para o outro tudo mude, até porque não foi de um dia para o
outro que piorou. Então, a gente tem
que fazer nossa parte. Os alunos principalmente. Outro dia, os alunos
quebraram as lâmpadas da própria sala de aula...então fica complicado.
17. Entendi. E lá atrás, o que tinha lá
atrás? Ficamos chocadas com o espaço vazio, com o lixo... O que era lá atrás?
Bom, lá atrás tinha uma quadra de
cimento, descoberta. Tinha esse teatro que eu falei...
18. Nós vimos uma porta grande, fechada. É
esse o teatro?
Sim, essa porta grande era a porta do
teatro. E mais lá pra cima, tinha uma obra inacabada.
(Uma outra professora interrompe a
entrevista, dizendo que era o teatro. As meninas perguntam e a professora entrevistada
afirma que a outra professora, Glória, tinha os filhos estudando na escola na
época que a mesma ainda era particular).
E tinha um projeto lá atrás de
construção de uma piscina olímpica. Parece que até já tinha o espaço
determinado para tal. E no caminho, indo para o teatro, tinha o laboratório de
ciências, essa parte de ginástica, tinha um vestiário...tudo isso no lado
esquerdo da quadra. Quer dizer, isso ainda existe lá, porque não foi
demolido...
19. Pois é, vimos várias coisas perigosas
lá atrás...muita coisa abandonada, que pode cair na cabeça de alguém... O teto
do banheiro caindo, tem uma parte presa em um vergalhão, tudo ali pendurado e
abandonado... A piscina, a gente viu, cheia de mato, água parada...parece
funda.
Sim ! era uma piscina olímpica! E ali,
no segundo andar, tinha uma parte com brinquedinhos infantis, tinha uma piscina
também, menor., para o maternal. E nesse pátio interno, no segundo andar,
também era uma área de recreação das crianças, com brinquedinhos, essas coisas.
Mas o que eu vejo, é que se fosse fazer um gráfico, Eu peguei assim, daí teve
uma queda, daí subiu novamente, daí caiu muito, e agora já apresenta sinais de
recuperação, depois de tudo isso.
20. E lá pra cima? tem uma escada em
frente a piscina...
Ah, é ! Nas salas do terceiro andar,
não sei se vocês viram...parecem umas covas. Ali era uma horta ! Já teve um
projeto do sesc que buscava revitalizar essa horta, aquilo ali foi construído
para ser uma horta mesmo. Ou seja, um espaço que ficou ali perdido...
21. Sim, vimos também diversos
brinquedos...
Sim, tinha vários brinquedos,
escorrega, quadro negro...
22. A mensalidade devia ser bem cara, né
professora?
Sim, era bastante cara, a escola era
de ponta ! Você veja, era do berçário até o pré-vestibular.
23. Nossa, mas a escola se acabou muito...
Pois é...todo lugar que é muito
grande, exige uma atenção maior. Você precisa estar sempre pintando, cuidando,
consertando... Se o lugar está com infiltração, tem que cuidar logo, senão pode
piorar, e a parede cai. É que nem na casa da gente, entendeu? Então, essa
escola ficou por muitos anos abandonada nesse aspecto. O que vocês encontraram
esse ano, já foi, assim, uma coisa melhorzinha. Aquele pátio, ali, interno, do
lado das salas de aula ,era um verdadeiro cemitério de cadeiras quebradas, pilhas
e pilhas ali jogadas.
24. Ainda tem um pouquinho, né ,
professora.
Sim, mas não se compara ao que era
antes, o pátio era tomado por cadeiras velhas. A gente ia dar aula e ficava
olhando para aquelas sucatas, horrível.
Mas acho assim, que estou muito animada com a nova direção, mas o papel
do aluno, insisto, é fundamental. Se vocês entrarem numa de valorizar o
espaço público, de denunciar, fiscalizar o nosso espaço, isso pode melhorar
muito. A direção tem mostrado muito boa vontade. Mas acho assim, que também
temos que colaborar. Isso é fundamental para que a escola dê certo!
Nessa entrevista, pudemos conhecer a história da nossa escola, como ela
mudou ao longo do tempo e despertar a atenção para o nosso papel enquanto
alunos. Não podemos esperar somente o governo, os professores ou a direção
fazer tudo pela gente. Devemos também colaborar para o funcionamento da escola,
seja prestando atenção nas aulas, seja valorizando nosso espaço de sala de
aula. Não adianta uma escola pintada, organizada, se no dia seguinte os alunos
estão pichando ou quebrando as coisas. Devemos contribuir para uma escola que
realmente dê certo: seja cuidando, seja fiscalizando ou dando o exemplo do
comportamento que queremos, afinal, a escola é pública e nossa. Por isso nosso
papel é primordial no funcionamento e na melhoria da escola. Não há escola boa
sem alunos que contribuam, efetivamente, para tal.
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